Decisão, risco e incerteza. Retirada ou reunificação de crianças e jovens em perigo?

Autores

  • Paulo Delgado Ferreira Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto
  • João M.S. Carvalho CICS.NOVA, Instituto Universitário da Maia; InED, Escola Superior do Instituto Politécnico do Porto;
  • Vânia S. Pinto InED, Escola Superior do Instituto Politécnico do Porto; Rees Centre, Department of Education, Universidade de Oxford, UK.
  • Teresa Martins InED, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto

DOI:

https://doi.org/10.7179/PSRI_2016.28.16

Palavras-chave:

Sistemas de proteção, Crianças e jovens em risco, Avaliação de risco, Tomada de decisão, Acolhimento familiar.

Resumo

Este estudo visa compreender melhor o que influencia e determina as decisões em ambientes caracterizados pela complexidade e pela incerteza, e contribuir para o desenvolvimento de recomendações para a prática. Com base nos trabalhos de Davidson-Arad e Benbenishty (2008, 2010), pretendeu-se saber como é que estudantes do ensino superior, em áreas científicas relacionadas com as profissões envolvidas no processo de decisão sobre os projetos de vida de crianças e jovens em perigo, decidiriam em presença de um caso concreto, em diferentes cenários. Participaram no estudo 200 estudantes do ensino superior, de diferentes regiões de Portugal. Utilizou-se um desenho fatorial (2×2), o que implicou o uso de um questionário vinheta com quatro versões, descrevendo um caso de uma criança com suspeitas de ser vítima de violência, e em que se pondera qual a decisão a tomar no momento e, caso seja retirada da sua família biológica, se deve ou não ser reunificada dois anos após essa decisão. Entre os resultados principais destaca-se que os estudantes reconhecem o risco da criança estar a sofrer danos significativos, físicos e emocionais, mas decidiram, maioritariamente, a favor de uma intervenção junto da família biológica, evitando a remoção da criança do seu contexto de vida. Contudo, perante uma decisão favorecendo o acolhimento familiar eles consideraram, ao reavaliarem o caso após dois anos, também maioritariamente, que a criança deveria permanecer junto da família de acolhimento. Evidencia-se, com significado estatístico, que a tomada de decisão foi influenciada, no primeiro momento, pela concordância ou não da mãe face com a retirada e, no segundo momento, pelo desejo ou não da criança de reunificação com a família biológica. Conclui-se que o desenvolvimento de critérios profissionais de avaliação e de tomada de decisão, passa pela integração no programa curricular dos cursos superiores na área da proteção infantil, do estudo dos critérios para a retirada, das condições para a reunificação e das vantagens de se envolver a criança e a família biológica na intervenção.

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Biografias Autor

Paulo Delgado Ferreira , Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto

Paulo Delgado (pessoa de contacto)

Professor Adjunto na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto
R. Dr. Roberto Frias, n. 602, 4200-465 Porto

Telefone: (351) 225073460 / 962952039 Correio eletrónico: pdelgado@ese.ipp.pt

 

Licenciado em Direito, mestre em Administração da Educação e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Santiago de Compostela, com agregação em Ciências da Educação na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. É membro integrado no CIEC, Centro de Investigação em Estudos da Criança, da Universidade do Minho, e no InED, Centro de Investigação & Inovação em Educação, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Autor de diversos artigos científicos e livros, desenvolve a sua atividade de docência e de investigação na área Pedagogia Social, dos direitos da criança, do acolhimento familiar e da tomada de decisões nos sistemas de proteção.

João M.S. Carvalho , CICS.NOVA, Instituto Universitário da Maia; InED, Escola Superior do Instituto Politécnico do Porto;

É investigador no CICS.NOVA (Centro Interdisciplinar em Ciências Sociais – Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Minho), e Professor no Instituto Universitário da Maia (ISMAI). É membro colaborador do InED, da Escola Superior do Instituto Politécnico do Porto;É Licenciado em Gestão de Empresas, Mestre em Economia e Doutor em Ciências Empresariais. Tem lecionado em licenciaturas e mestrados nas áreas do Serviço Social, Psicologia e Ciências Empresariais. Também tem sido formador e consultor em muitas organizações, nomeadamente do setor social. Tem publicado diversos livros, capítulos de livros e artigos em revistas científicas internacionais.

Vânia S. Pinto , InED, Escola Superior do Instituto Politécnico do Porto; Rees Centre, Department of Education, Universidade de Oxford, UK.

Licenciatura em Ciências Psicológicas e Mestrado Integrado em Psicologia área Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa. Cursos de Pós-graduação em “Proteção de Menores”, pela Faculdade de Direito, Universidade de Coimbra e “Análise de dados em Ciências Sociais” pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. A frequentar programa doutoral no Rees Centre, Department of Education, University of Oxford. Membro colaborador do INED, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Destacam-se como principais áreas de investigação: medidas de promoção e proteção de crianças e jovens, acolhimento familiar e definição de critérios de qualidade.

Teresa Martins , InED, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto

Teresa MartinsEducadora Social e docente na Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto.Licenciada em Educação Social pela Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (2007) e Mestre em Gerontologia Social pelo Instituto Superior de Serviço Social do Porto (2012), frequenta atualmente o Programa Doutoral em Gerontologia e Geriatria do ICBAS/ UP e Universidade de Aveiro. É docente da Unidade Técnico-científica de Ciências da Educação da ESE.IPP e investigadora do InEd – Centro de Investigação e Inovação em Educação da ESE.IPP. 

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Publicado

2016-06-09